24 março 2011

Capital Inicial e Thedy Corrêa promovem encontro de Titãs no Planeta Atlântida

Por Gustavo Morais

A última edição gaúcha do festival Planeta Atlântida foi o cenário de um encontro musical muito aguardado por fãs do rock nacional. Durante sua vibrante apresentação, o Capital Inicial recebeu no palco a ilustre presença de Thedy Corrêa, vocalista do grupo Nenhum de Nós. Desta forma, foi promovida a conexão entre duas das mais importantes escolas do rock brasileiro: Brasília e Porto Alegre; chimarrão e ruas com ‘cheiro de gasolina e óleo diesel’.

A situação foi toda arquitetada por Dinho e Thedy através do Twitter, fato este que ilustra a capacidade que a internet tem de render bons frutos quando é bem usada. Ambos trocaram contatos e assim que o Capital aterrissou em solo gaúcho, as coisas foram, gradualmente, tomando formas concretas. Em meio a conversas e cervejas (it’s only rock and roll, but we Like it) ficou pré-definida como seria a participação do vocalista do Nenhum de Nós. Já no dia do show, durante os bastidores, ambas as partes acertaram os detalhes e cuidaram para que tudo ocorresse conforme manda o figurino.



Do alto de sua sapiência, Thedy lançou ao público um trecho de “Você Vai Lembrar De Mim”, que é uma canção, cuja letra cumpre de maneira exímia o papel de tocar o coração do receptor ouvinte e fazer brotar o pensamento: ‘Ual! Eu já vivi essa história!’. Na sequência, os músicos recorreram à imortal obra da Legião Urbana e mais uma vez levaram o público ao êxtase. A cereja do bolo ficou por conta de uma arrebatadora execução de “A Sua Maneira”, que segundo Thedy é uma música da maior de todas as bandas já surgidas na América Latina, o Soda Stereo. Com destreza de Ayrton Senna e carisma de Martin Luther King, Thedy Corrêa e Dinho Ouro Preto pilotaram a maravilhosa plateia, que totalmente entregue ao momento soube retribuir a altura tudo que aconteceu naquele palco.

Há quem pense que esta foi a primeira vez que os vocalistas se encontraram. Entretanto, eles são pessoas que se admiram e nutrem respeito mútuo há um bom tempo. As 40 mil pessoas que testemunharam esse encontro de titãs do rock brasileiro viram naquele palco a soma de forças de duas bandas que estão por aí militando pela música de qualidade há uns bons vinte e tantos anos. É este tipo de situação que separa o joio do trigo; separa moleques de homens e separa canções feitas com alma de produtos que se dizem musicais feitos da boca pra fora.

Longa vida ao Capital Inicial, longa vida ao Nenhum de Nós e longa vida ao rock brasileiro!

http://www.youtube.com/watch?v=etV10zW3wIA&feature=player_embedded

Altos, baixos e renascimento

É curioso na história do Capital Inicial e do Nenhum de Nós o fato de que as duas bandas não faziam parte do time titular da seleção brasileira do rock surgido na década de 80. Eram grupos que tinham atenção da mídia reduzida e menos glamour. Para conseguir se sobressaírem, era fundamental que fizesse muito mais shows e em praças bem menores.

O tempo passou, os perrengues surgiram, e foram sabiamente contornados. Em eventos como o Pop Rock Brasil, Dinho & Cia passaram pelo constrangimento de subir ao palco por volta das 3h30 da madrugada e fazer um show para uma platéia que ia deixando o estádio gradativamente música após a música. Algumas edições depois do mesmo festival foi a vez de Thedy & CIA passarem por um desrespeito. Em razão de alguns atrasos, oriundos em razão do estrelismo de alguns, tiveram que cortar três músicas do repertório. Estas situações são apenas exemplos de muitos mal bocados que as duas bandas passaram e contornaram.

Mais de duas décadas depois de sugirem, o Capin e o NDN seguem firmes carregando a tocha do rock nacional. As duas bandas possuem em comum o fato de serem sobreviventes. Ambas assistiram a maioria de seus colegas de geração naufragar pelos mais variados motivos e possuem a qualidade de cativar novas gerações de fãs.

Um verdadeiro caso de amor (leitura recomendada para quem realmente é fã)

Partindo do pressuposto de que a construção de texto foi planejada pensando em fã clubes, há incontáveis motivos para que o lado jornalístico fique um pouco de lado e conceda espaço ao fã de rock nacional.

Este que vos escreve possui uma história muito especial com as duas bandas. Venho de uma família de roqueiros e tomei gosto pela coisa logo cedo. Desde o antigo pré-primário, isso lá nos anos 80, sou fã do Nenhum e do Capital. A brincadeira favorita da turminha que eu tinha na escola era montar bandas imaginárias e tocar músicas como “Pedra na Mão” e “O Astronauta de Mármore”. Cresci amando estas bandas e isso nunca vai mudar.

De certa forma, o episódio do Planeta Atlântida serviu de bálsamo para lavar a minha alma, pois tenho um episódio não muito agradável com as duas bandas. No primeiro semestre de 1999 eu teria a chance de ver os dois grupos ao vivo na mesma noite. Seria em um festival promovido por um colégio de Belo Horizonte. Na ocasião, o NDN atravessava mais uma crise do rock nacional (ainda bem que eles tiveram amor e confiança para nunca acabarem com a banda). O Capin seguia os passos lentos, seguros e graduais que culminaram no fim do divórcio com Dinho (eram os tempos de vacas magras e eu fiz parte dessa história sempre acreditando na volta deles). Este evento foi cancelado porque não vendeu ingressos o suficiente. Quando soube da notícia, chorei copiosamente igual criança. Este é o tipo de situação que jamais se esquece. Anos depois, tive o privilégio de conhecer o pessoal do Capital Inicial e Nenhum de Nós. Da próxima vez que nos encontrarmos, iremos nos abraçar eu irei dizer o meu “muito obrigado” por ajudarem a moldar o meu caráter.

Sobre o autor:


Fonte: Fã Clube Belo Horizonte ( Capital Inicial) - http://www.faclubebh.com.br/2010/capital-incicial-e-thedy-correa